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sou um pardal ateu e é isso...

quinta-feira, setembro 28, 2006

Pequeno Alerta À Navegação

Esta breve crónica tem a sua origem numa ainda mais breve conversa que hoje tive, e que acho que revela bem como, frequentes vezes, as pessoas criam sobre nós expectativas que nós não temos a ocasião de cumprir.

Uma pessoa amiga acha que eu devo me dedicar mais à escrita, que escrevo muito bem, mas que devia encetar o projecto de levar um livro adiante, que devo isso a mim mesmo, que saltito muito de tema em tema, e por aí vai.

Bom, quanto às parcas pessoas que acompanham os textos que vão sendo colocados com uma cadência mais que incerta neste blogue, eu não sei, mas quanto a mim, não vejo as coisas dessa forma.

Um projecto pode ser algo muito interessante e mesmo aliciante, mas ninguém pense que me coloca a ver e, sobretudo, sentir a escrita como tal, antes de mais, porque eu não me vejo como um escritor, algo que não sou, mas antes como um ser humano com diversas facetas, e que gosta de garatujar umas frases soltas no papel ou de as matraquear no teclado de um computador, para dar forma a alguma coisa meia estranha e vagamente definida que aparece no já vetusto monitor que se encontra diante de meus olhos.

É certo que espraio essas frases sem grande dificuldade; poucas vezes me detenho a pensar “o que devo escrever” e muito raras vezes planeio o que vou escrever, e nunca a forma sob a qual vou escrever. Isso tem a vantagem de eu o fazer por gosto, e, talvez, por necessidade, necessidade de exprimir e partilhar algo do que vou retendo no mundo. Não pretendo ser conhecido; muito pelo contrário, prezo muito o anonimato e a placidez de uma vida pacata. Sei o quanto isto vai em contracorrente em relação ao pensamento dominante, mas não tenho a mínima ambição em relação à escrita, nem a quero transformar num compromisso sob forma alguma.

Prefiro as pequenas felicidades do dia a dia que tanto são desprezadas pelas pessoas que vivem diariamente em busca da felicidade, que batalham incessantemente por ela, que não conseguem olhar para os pingos de chuva que caem e ver nisso nada mais que um incómodo. Desprezo o ritmo devorador dos nossos tempos, e que nos devorará a todos a prazo.

Por outro lado, o saltitar de tema em tema, tem a ver com a pluridimensionalidade que qualquer um de nós tem, mas que geralmente não sente ou sabe, porque se confina à sua vida profissional e a planear coisas, objectivos, fins, acantonando a sua sensibilidade num qualquer território mal explorado e que não apareça em qualquer mapa.

Lá está, não fui feito para viver neste mundo, mas isso é um problema do mundo, não é meu. Agora, não criem expectativas a meu respeito, sobre grandes coisas que eu hei-de escrever ou ser muito conhecido ou seja lá o que for. Todas elas sairão furadas. Eu escrevo enquanto quiser e gostar de escrever, escrevo desta forma artesanal porque é aquela que vem de dentro de mim e não porque em algum instante eu me preocupe se as pessoas irão apreciar mais ou menos isto. Aqui no mundo Ocidental, vivemos muito preocupados com a imagem que queremos que os outros criem de nós, esquecendo aquilo que realmente somos. Vocês até podem viver assim; não é um problema que me aflija. Eu, politicamente incorrecto, repito, gosto de ser “ninguém” e de assim poder ter tempo para apreciar pequenos momentos e vivências.

Há uma coisa, porém, em que concordo com essa minha amiga, mas concordo de forma prévia: eu estou a escrever um livro; acontece é que nada tem a ver com quase nenhuma das crónicas que aqui vou publicando e faço-o porque me dá gozo e não porque ache que me vai dar dinheiro ou reconhecimento.

E, por ora, é isto. Apreciem (ou não) o que aqui vão lendo, mas pensem sempre que não passa disto mesmo: textos soltos e simples, e que é por isso que os escrevo, porque são soltos e simples. E nada mais.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É essa tua genuidade que faz com que as nossas conversas sejam bons momentos para recordar e que tanto me orgulho de as poder ter com um amigo como tu. Aquele nosso grande abraço.

2:34 da tarde  
Blogger Furnle Turnle said...

as nossas conversas são bons momentos para recordar especialmente porque decepamos corpos com guilhotinas enquanto dialogamos amigavelmente ;)

2:44 da tarde  

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