Stress, Depressão & Síndrome de Pânico

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sou um pardal ateu e é isso...

sábado, abril 21, 2007

Banalidades e pequenos - almoços

A passada semana fui tomar o pequeno – almoço com um amigo meu, que me falou de um pequeno artigo que lera numa revista de distribuição gratuita. Em termos resumidos, um conferencista apresentava-se com um boião, no qual colocou pedras. Encheu o boião, o mais que lhe foi possível, com pedras e perguntou à audiência se o boião estava cheio, que prontamente lhe respondeu que sim. Então, ele colocou gravilha no boião, nos espaços livres que as pedras deixaram. E voltou a perguntar à audiência se o boião estava cheio. A audiência disse que agora sim, estava cheio. Então, ele colocou areia no boião, que preencheu os espaços que sobravam da gravilha e das pedras. Repetiu a questão. A audiência repetiu a resposta. Então, ele colocou água no boião e disse que agora sim, o boião estava cheio.

É então que ele questiona a audiência sobre qual o significado do que ele acabara de fazer. Uma pessoa arriscou responder: não interessa o quanto a nossa agenda esteja preenchida, encontramos sempre tempo para mais um compromisso. Ao que o conferencista responde: Errado!

O que eu fiz apenas foi possível porque coloquei as coisas por esta ordem. Primeiro as pedras maiores, depois as pequenas, depois a areia e, por fim, a água. O mesmo deve acontecer nas nossas vidas. Primeiro o que é, realmente, importante: a pessoa amada, a família, os amigos, os sonhos, os desejos e a saúde. Depois, e apenas depois, tudo o resto.

O meu amigo sentiu-se um pouco reconfortado ao ler esta história, pois partilha do seu ponto de vista. Quem me conhece sabe que eu também, contudo, queria realçar um detalhe que pode passar despercebido numa primeira abordagem. E que é a resposta que o elemento da audiência dá ao conferencista. “Não interessa o quanto a nossa agenda esteja preenchida, encontramos sempre tempo para mais um compromisso”. Essa frase, que se encontra na história como claro contraponto ao que se segue, tem um significado ainda mais profundo: é assim que muitos de nós encaram a vida hoje. Ou seja, de forma completamente inversa àquela que o conferencista pretende demonstrar ser a correcta.

Essa forma de viver, amplamente difundida e prenhe, teve grande impulso com a Revolução Industrial e sistemas comunistas e capitalistas se aproveitaram dela para se edificarem e alimentarem. A suprema ideia de o trabalho como realização superior serve às mil maravilhas para que empresas e estados se alimentem, através de uma moderna forma de escravização, que consegue convencer as pessoas que o estão a fazer de forma voluntária e porque isso lhes satisfaz o seu interior. Orwell e Huxley juntos não fariam melhor. O endeusamento do ser individual através do trabalho, criando a suprema patranha redutora que somos o que conseguimos alcançar na nossa actividade profissional, não importa os meios, importa a fama e o sucesso, importa o dinheiro e o prestígio.

Mas, contestar a ideia dominante é romantismo… é falta de ambição, é cinzentismo. Não pode ser uma forma alternativa de encarar a vida; não, não pode ser nada que possa minar os alicerces do sistema, ainda que seja o sistema que esteja a minar os nossos alicerces. Daí a busca desproporcionada do ser humano pelos bens materiais, tentando compensar e preencher o vazio interior que dele se apoderou nesta nossa contemporaneidade. Quanto à dimensão desse vazio, falaremos em outra oportunidade.