Stress, Depressão & Síndrome de Pânico

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sou um pardal ateu e é isso...

segunda-feira, abril 24, 2006

Calos nos Pés e Bolhas nas Mãos

E se um dia surge em nossas vidas uma relação completamente diferente de todas as outras?

Em vez daquelas relações que começam com os namorados todos deleitosos, suspirando a transpirar ânsia por mais um encontro, no qual trocarão beijos lânguidos e envolventes, um encontro que é uma celebração de paixões e de afectos, um encontro que é uma troca desenfreada de carinhos e sentimentos, de sentidos aguçados e olhares apaixonados entre o latente e o ardente; em vez de tudo o que está descrito atrás, se iniciar uma relação com dúvidas e incertezas, sem grande necessidade da presença do outro, sem gestos que demonstrem grande efusividade sentimental?

Bem, pode ser mau, pode ser apenas uma relação sensaborona, pode ser uma relação de conveniência mútua, pode ser um engano, pode ser um engodo. Pode ser uma decepção, pode ser um soporífero, pode ser um tédio, pode ser um passatempo.

Pode.

Pode também ser uma semente que demora a germinar, que está a procurar o seu espaço dentro de cada uma das pessoas para se desenvolver. Uma semente que cresce lentamente, tentando firmar lentamente, mas de forma segura, as suas raízes no interior de cada uma das partes. A cada penetração de uma raiz em solo firme, virá um voto de protesto do corpo/mente que a alberga; sairá um estrebuchar, que é mais uma lenta forma de aceitação e de sedução que propriamente uma rejeição firme. Esse sentimento, que inicialmente tão pequeno parecia, começa a firmar-se no corpo, começa a sair pelos poros da pele, começa a nascer junto dos pelos, começa a habitar em nossos olhos e torna-se o sangue das nossas veias. Começa a invadir-nos o sono e os sonhos, começa a dançar uma valsa em nosso pensamento. Começa a tomar a forma de um futuro presente, quando inicialmente mais parecia um pretérito imperfeito.

Algo que nos povoa e nos invade, mas que não nos limita, inversamente nos expande. Lentamente, vai existindo uma aproximação, vai se urdindo uma teia de cumplicidades e companheirismo, de carinho e erotismo. De tanto crescer devagar, vai encontrando tempo e espaço para se firmar, ainda que contra a vontade do corpo/mente em que habita. De tão firmado, começa a querer se transcender, começa a sentir a ausência, primeiro de forma doce e suave, depois de forma mais forte, a ponto de em qualquer lugar que o olhar pare, pareça se deter naquilo que quer ver e lá não está.

Torna-se natural acordar com o pensamento naquela pessoa que, inicialmente, nos parecia tão cheia de defeitos e tão impossível de estar ao nosso lado. O desejo do toque segue em curva ascendente.

Ao contrário de uma paixão comum, que tende a esfriar com o tempo, este amor vai pendendo, devagar, mas em passos firmes, para um desvario e plenitude. A aproximação entre ambos os elementos é lenta, mas, quando eles dão conta, estão profundamente ligados. Nessa altura, perdem-se em dúvidas, questionamentos (“não é possível gostar de alguém assim tão diferente”; “ele/ela não é nada do que eu esperava ou queria para mim”). Podem tentar negar a importância do outro. Podem tentar se desligar.

Em vão. Nessa altura, já estão ansiosos em criar algo comum. Mais que ansiosos, desejosos. Mais que desejosos, sequiosos.

E é então que a paixão que, inicialmente, dormia, se espreguiça e acorda pujante de um sono que a encheu de energia, fundindo-a a esse estranho amor que os liga de forma indelével.

Não se vive muitas vezes isto numa vida. Há quem nunca viva. Em muitas de nossas vidas, é algo que surge uma vez. Viva-se essa vez. Nunca mais a nossa vida será a mesma. Será bem mais fértil e intensa.

terça-feira, abril 11, 2006

Erros e Imbecilidade Colectiva

Frequentes vezes as pessoas têm problemas nas suas vidas, nos mais variados campos, pela incapacidade de autocrítica.

Todos erramos, muitas vezes e com consequências variáveis. Um erro cometido por nós deve ser assumidamente dissecado, para evitar que se repita mais e mais uma vez na nossa vida.

A esmagadora maioria dos erros não tem apenas reflexos na nossa própria vida, mas também em vidas alheias. E, a maioria das vezes, nas vidas das pessoas que nos são próximas.

A autocrítica, quando aplicada numa dose razoável (o que significa que não pode ser demasiado dura nem branda), é um bom mecanismo de regulação das nossas relações com terceiros.

É lamentável quando as pessoas se recusam a observar os seus erros, mas também o é quando tendem a minimizá-los ou a entender que se apagam com uma borracha. Faz lembrar o cinema americano dos anos 40/50 do passado século em que um rapaz apaixonado fazia uma série de coisas que magoavam a sua amada, mas que depois tudo se dissipava com a oferta de um gracioso ramo de rosas…

Cretinices como esta são interiorizadas por gerações que se afogam em romantismos de pacotilha e em sentimentos expressos superficialmente, como se a vida que aparece nas revistas cor de rosa existisse e, mais sério ainda, como se aquele tipo de vida satisfizesse alguém que tivesse mais de 3 neurónios.

Infelizmente, enquanto o ser masculino passeia a sua infinita burrice através de jornais desportivos e coisas afins, a descomunal mbecilidade feminina encontra eco na já citada imprensa.

No fundo está tudo certo, não é? Afinal de contas, o Gonçalo enche a Marta de porrada, mas esta, como tem uma pipa de massa, pira-se para uma ilha paradisíaca onde vai para a cama com 3 ou 4 tipos diferentes para afogar as mágoas, retornar, dizer que não volta a ver o Gonçalo. Este, por sua vez, vai para a noitada na 24 de Julho, onde engata a filha de um ex-ministro qualquer e ambos se entendem numa linha de cocaína. Depois a Marta volta para o Gonçalo, para que este a encha de porrada novamente.

Assim se levam os erros, vivendo e não aprendendo.

Ora, atitudes superficiais deste calibre, fazem com que as pessoas que sorvem estes mundos fúteis tendam a agir assim em suas vidas e assim lidem com os outros. Incapazes de ir a fundo nas questões que interessam.

Não basta apenas oferecer um presentinho (seja de que género for) para apagar determinados erros que se cometem. No limite, um assassino ofereceria um presunto à família do falecido e tudo ficaria bem, não é mesmo? Sei lá, nesta sociedade cada vez mais alienada e cega, já nem sei o que esperar.

E assim caminhamos, não é? Não propriamente insensíveis, mas anestesiados. Esperando sempre que nos dêem algo, mas incapazes de dar livremente. Achando que temos sempre razão. Afundados em modelos, construindo guiões e esperando que apareça o actor/ a actriz certa para o papel pré-definido na nossa mente. Depois, quando o/a que surge não encaixa na perfeição, tentamos alterá-lo/a, em vez de alterar o guião. Muito menos em vez de nos alterarmos a nós mesmos.

Há quem passe a vida a encarcerar-se a si mesmo. Um dia acorda e descobre-se incapaz de fazer um carinho numa criança. Outro dia acorda e descobre que a criança é que se tornou incapaz de oferecer carinho a si. Outro dia acorda e do carinho apenas tem uma vaga ideia. Outro dia já nem sente nada a acordar e vive como um autómato.

E esse é um dos maiores erros de todo o sempre.