Stress, Depressão & Síndrome de Pânico

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sou um pardal ateu e é isso...

quarta-feira, março 29, 2006

Confessionário - genuflexório musical 1

Hoje é um daqueles dias em que me apetece escrever, mas que não sei o tema, menos ainda a forma sob a qual ele irá se vestir.

Diversas ideias pululam na minha mente, mas nenhuma se decide ou consolida. A minha cabeça está demasiado musical hoje… quer dizer, hoje e muitas vezes.

Gosto de música desde pequenino. Sempre que ia à feira com a minha avó ou a minha madrinha, trazia de lá uma cassete pirata (ainda guardo algumas carinhosamente, mesmo que hoje me pareça impossível ouvir aquilo). Não era esquisito e tudo que viesse à rede era peixe. Afinal, era uma criança. Algures numa gaveta de uma escrivaninha em meu quarto, repousam cassetes compradas por cem ou duzentos escudos, numa época em que nem existiam ainda ECU’s, menos ainda Euros.
Cassetes de José Cid, Festival da Canção, Roberto Carlos e por aí… colectâneas tipo Jackpot 84 ou PolyStar… lembro-me de ir ouvindo indiscriminadamente todas essas coisas, antes de começar a trilhar meu próprio caminho. Recordo-me de uma música que me chamou a atenção como até esse dia nenhuma outra tinha chamado. Foi no Natal de 1987, numa colectânea Hit Parade, que tinha sucessos de U2, Suzanne Vega e afins… a música em causa era, contudo, portuguesa e era de uma banda chamada Xutos & Pontapés. Num ano cheio de hit’s lançados para a rádio, como tenham sido “Contentores” e “A Minha Casinha”, a Polygram escolheu o tema “N’América” para integrar a colectânea.

“N’América” está longe de ser uma música festiva ou alegre, e eu apenas tinha 11 anos, mas o certo é que apanhou em cheio, a ponto de saber de cor e salteado todos os versos da letra em três tempos. O tom desnorteado e abatido da música, de alguém que sonha com uma ilusão enlatada de um mundo encantado mesmo ao lado, fez com que germinasse, de facto, um interesse por músicas que não fossem de gosto fácil ou radiofónicas.
E por músicas cantadas em língua portuguesa (o que me faz ter uma genuína aversão a bandas nacionais que cantem em língua que não a nativa).
Musiquinha formatada de rádio nunca me atraiu. Há boas músicas na rádio, mas essas conquistam o seu espaço. A generalidade das músicas que passa na rádio não abre grande espaço à imaginação, são feitas para esse efeito e conseguem, a longo prazo, imbecilizar o ouvinte mais bem intencionado.

Assumo que o que toca na rádio não me preenche. Mais, nem tão pouco me capta o interesse, sequer. Tenho gostos musicais estranhos para a maioria dos seres humanos com os quais convivo porque as pessoas se deixam formatar a nível de gostos, a ponto de não conseguirem se aperceber que nunca foram elas que descobriram nada, antes lhes foram impingidas uma série de produtos enlatados, prontos a serem consumidos sem pestanejar.

Existe algo de grave nisto? Existe. É que, cada um de nós é bem maior do que aquilo que transpira. E, quando não se faz da vida uma busca incessante de si mesmo, acaba-se por cair numa certa frustração interna.

O que tem isto a ver com música? Tudo. Se as pessoas se empenhassem em ir mais a fundo buscar o diferente naquilo que ouvem, descobririam muito mais sobre si próprias, sobre sentimentos, emoções, desejos, vontades e por aí… Mas isso implica o corte de assumir que não se vai ser igual à carneirada… no limite, deixava de haver carneirada…

Como dizia Raul Seixas, “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Outro momento marcante na minha formação musical foi a existência de um programa de rádio chamado Em Português (mais tarde rebaptizado 100%) da autoria de Henrique Amaro. Esse programa, que passava das 23 às 24h na Antena 3 (e teve mais tarde seu horário alterado para as 00h – 01h), e que se destinava a divulgar a nova música feita em Portugal, teve o grande mérito de passar também generosas quantidades de música brasileira. Foi lá que ouvi, pela primeira vez, a música Perfeição, da Legião Urbana, ou Disneylândia dos Titãs. Foi lá que conheci Chico Science & Nação Zumbi, Pato Fu ou mundo livre SA. E ao ouvir essas bandas, com suas estruturas rítmicas próprias e inconfundíveis, frases que me ficaram na cabeça, comecei a definir o meu acervo musical.

Em Agosto de 1994 minha irmã estava de férias no Brasil e lhe encomendei 4 cd’s. Gabriel o Pensador – Gabriel o Pensador (que mais tarde seria editado aqui com sucesso); Titanomaquia – Titãs (que também teve uma diminuta edição em Portugal); Da Lama ao Caos – Chico Science & Nação Zumbi e O Descobrimento do Brasil – Legião Urbana.
Quando ela chegou, esses cd’s mudaram definitivamente e indelevelmente o meu panorama auditivo. Iniciei então uma pesquisa sobre música brasileira que me levou a adquirir centenas de cd’s, a conhecer alguns dos artistas cuja obra aprendi a admirar.

Tenho noção que isso me tornou um ser estranho perante os outros. Quanto eles me falam de uma música qualquer que toca na rádio ou passa em bares e discotecas e eu digo “não conheço”, eles pensam que eu vivo noutro planeta. Tinha um amigo dos tempos da FEP que me dizia que eu era o verdadeiro alternativo, aquele que ouvia músicas que mais ninguém conhecia. E ainda hoje é assim que me sinto bem, não pela necessidade de ser diferente, mas feliz por ter partido em descoberta de mim mesmo e continuamente me encontrar.

Muito ficou por dizer, pelo que voltarei a este tema mais tarde, para completar o que aqui vai. Mas não parto sem deixar uma letra que nunca poderia conhecer se me retivesse ao triste mainstream pop FM que resume o imaginário da generalidade das pessoas a um microcosmo diminuto.


Legião Urbana

Daniel na Cova dos Leões


Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
E forte, cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
Eu sei que tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos



Um bem-haja a todos vocês.

(Escrito ao som de Ópera do Malandro (1977) – Chico Buarque e Acústico MTV (1997) – Titãs)

quarta-feira, março 15, 2006

CREPÚSCULO (OS CANHÕES DA GUERRA)

Pedras e estacas percorrem
O chão quente em que morrem
Homens sedentos de vingança
Agora começa a matança
O asfalto psico-térmico
Alastra o vírus epidérmico
Passos sobrepõem – se à calçada
Na fuga raivosa da manada
Atormentado está o trilho
E uma mãe que perdeu o filho

Mochilas, sacos e suores
Chicotes, algemas, horrores
Pele humana para sabão
Máquina oleosa sem paixão
Alfândega abandonada ao pó
Lúgubre casebre vazio e só
Formigas rastejam em linha
Buscando migalhas de farinha
Terramotos esventram a terra
Roncam os canhões da guerra

Todo o minuto é momento
Deusa sagrada do sofrimento
Exploração constante e cruel
Tinta, martelo doce cinzel
Estátua erguida da desgraça
Ódio doente que trespassa
Tombam milhares pelas valas
Enterram-se cadáveres em salas
Moribundos zombies sem alma
O silêncio sorri com calma

Apodrece a sensação de indolência
Acabou a minha paciência
Ninguém leva nada a peito
Ninguém faz nada direito



(Tem qualquer coisa a ver com a 2ª guerra mundial)

sexta-feira, março 10, 2006

Longe do Meu Lado (Legião Urbana)

Se a paixão fosse realmente um bálsamo
O mundo não pareceria tão equivocado
Te dou carinho, respeito e um afago
Mas entenda, eu não estou apaixonado

A paixão já passou em minha vida
Foi até bom, mas ao final deu tudo errado
E agora carrego em mim
Uma dor triste, um coração cicatrizado
E olha que tentei o meu caminho
Mas tudo agora é coisa do passado
Quero respeito e sempre ter alguém
Que me entenda e sempre fique a meu lado
Mas não, não quero estar apaixonado

A paixão quer sangue e corações arruinados
E saudade é só mágoa
Por ter sido feito tanto estrago
E essa escravidão e essa dor não quero mais
Quando acreditei que tudo era um facto consumado
Veio a foice e jogou-te longe
Longe do meu lado

Não estou mais pronto para lágrimas
Podemos ficar juntos e vivermos
O futuro, não o passado
Veja o nosso mundo

Eu também sei que dizem
Que não existe amor errado
Mas, entenda, não quero estar apaixonado



(coisa bem melancólica, escrita alguns meses antes da morte de Renato Russo)

domingo, março 05, 2006

Auto-retrato, descrição de uns amigos e afins...

Eu num dia mau -
Reles pedaço de matéria e reduto de limitada inteligência, pavoneio-me pelo mundo, ignorando-o e deixando que ele me absorva. Não tenho objectivos de vida, porque não tenho vida, nem sei se ela me tem a mim. Demoníaco provocador, perfurador de âmagos alheios, advogado do diabo, semente de questionamentos profundos... enfim, um verdadeiro verme nojento cuja paquidérmica languidez não é mais que uma névoa aterradora. Evitem-me. Se me virem na rua, mudem de passeio. Se me ouvirem falar, encham os ouvidos com cera ou algodão. Se estiverem a ler isto, parem imediatamente, pois serão ainda mais cretinos que eu. Fujam todos. Eu também ando fugido... não, não é da PSP... nem de ninguém que não seja, talvez, eu próprio a flutuar num universo paralelo, no qual todos os elementos que compõem o poderoso lobby do aeroporto da Ota aparecem mortos e desmembrados por uma população em fúria, verdadeiramente enlouquecida.


Eu num dia bom -
Sou um anão gigante, com olhos e uma mentalidade de periquito tropical. Não publico a minha foto porque sou muito reservado, apesar de não ser quarto de hotel. adoro comer souffle de formiga brava da África Austral e normalmente sou anormal. Perdi os medicamentos, o que faz com que me babe com frequência, especialmente quando vejo o Bambi na televisão. Não uso drogas, porque não tenho braços. Vendi-os a um traficante de órgãos para comprar um leitor de DVD. Gosto de tomar banho e também gosto de não tomar banho. Tudo tem dois lados nesta vida. O da frente e o de trás. E ambos são interessantes, pelo menos quando falamos de gajas boas. Vivo em Saturno e trabalho em Júpiter. Quando saio à noite, planto bróculos e perturbo jovens casais apenas para me rir.


Pedro -
O Pedro é um grande furnle. Creio mesmo que seria um fernunle se não fosse o facto de prrr.... Ahahahah! Por momentos, senti-me possuido pela loucura. Isto passa. O médico diz que acontece de vez em quando... e para eu não me assustar muito se nestas alturas me aparecer algum cadaver no frigorifico. Curioso... o médico disse o mesmo do Pedro. Mas o Pedro é um bom amigo. Ainda me lembro das grandes cenas que passamos juntos. Uma delas foi quando ele se lembrou de fazer um genocídio no Centro Cultural de Belém. E o pessoal que lá estava delirou com a cena porque pensavam que era teatro moderno. Isso até terem todos as tripas de fora, e pedirem misericórdia, enquanto o Pedro se babava com essas cenas. O êxtase tomava conta dele. A incontinência também. Continua assim Pedro, és um gajo espectacular... e quando sentires aqueles tremores no braço derivados dos teus impulsos homicidas, é só chamar. Podemos ir ao shopping, desta vez... já imagino centenas de cadáveres...


Um certo tipo que eu e o Pedro conhecemos... -
Sou um engenheiro com o 9º ano e tento há dez anos fazer matemática do 12º ano. Se não consegui é porque a culpa foi do governo que não assinou nenhum decreto para me passar. Sim, porque eu conhecia um amigo que era o braço direito do Sócrates na área dos decretos! Infelizmente, morreu num desastre de viação quando me vinha entregar preciosos documentos! Sónia, minha cabra, traz-me os meus charutos! Rápido, antes que te dê um biqueiro. Já chega quando deitas sangue da boca por te ter arrancado os dentes um a um com um alicate que o meu tio me emprestou. Esse boi, ainda por cima, a empresa é mais minha do que dele, aliás, eu tentei convencê-lo a montar uma pizzaria, para fazer concorrência à Pizza Hut, eu até disse que tinha visto um documentário no canal História sobre pizzas no século XX e arrasávamos com a concorrência. Sónia, minha puta, onde está o charuto?! Pega um soco e não digas que vais daqui. Bem, mas é bem feito. Cavaco, amigo, vê se pões ordem na casa, que esses palhaços perderam o Norte. E se precisares de mim para alguma função, já sabes! Conta comigo. Esperem só um bocadinho enquanto pego na serra eléctrica para cortar a Sónia em pedaços. Ela de vez em quando porta-se mal e eu tenho que a castigar! Aprende, Cavaco. Faz o mesmo. Cala-te, Sónia, não grites mais! Foi só um braço, minha querida. Isso passa!
Bem, tenho que ir. Os alemães estão à minha espera. Vou-lhes ensinar como em São Paulo pode nevar na marina!
Pedro, palhaço, deves estar a roer-te de inveja, por não seres como eu! Eu dei momentos em Física! Eu tive 18! Eu liguei um rádio amador à antena de televisão! Eu conheço um Boeing 767 da Lufthansa só de o ouvir! Eu mostrei o meu cano à vizinha! Eu ensinei o teu pai a coçar os tomates! Eu sou mais que um pai para ti, e tu trais-me! Sónia, cala-te com o choro ou corto-te o outro braço! Um abraço para o palhaço do Aires e para o cabrão do Rodrigues!

quinta-feira, março 02, 2006

L'Avventura (Legião Urbana)

Quando não há compaixão
Ou mesmo um gesto de ajuda
O que pensar da vida
E daqueles que sabemos que amamos?

Quem pensa por si mesmo é livre
E ser livre é coisa muito séria
Não se pode fechar os olhos
Não se pode olhar p’rá trás
Sem se aprender alguma coisa
P’ro futuro

Corri p’ro esconderijo e olhei pela janela
O sol é um só mas quem sabe são duas manhãs
Não precisa vir se não for p’rá ficar
Pelo menos uma noite e três semanas.

Nada é fácil, nada é certo
Não façamos do amor algo desonesto
Quero ser prudente e sempre ser correto
Quero ser constante e sempre tentar ser sincero
E queremos fugir
Mas ficamos sempre sem saber

Seu olhar não conta mais estórias
Não brota o fruto e nem a flor
E nem o céu é belo e prateado
E o que eu era eu não sou mais
E não tenho nada p’rá lembrar

Triste coisa é querer bem
A quem não sabe perdoar
Acho que sempre lhe amarei
Só que não lhe quero mais
Não é desejo, nem é saudade
Sinceramente nem é verdade

E eu sei por que você fugiu
Mas não consigo entender


(Hoje acordei com vontade de ouvir esta música)

quarta-feira, março 01, 2006

Exaustão

Cabeça pesada, ombros descaídos, olheiras, sonolência, cansaço acumulado... sensação de saturação...

O desgaste é corrosivo, a falta de sono é assassina do bem estar interno.

Os pensamentos começam a ficar desconexos, a articulação de ideias principía a falhar, os raciocínios tornam-se turvos e incoerentes.

As vontades, de imensas, passam a ténues e esparsas, qual lareira em que as chamas deixam de crepitar para apenas uma pequena combustão ir exaurindo a lenha lentamente.

O corpo agacha-se, o espírito aninha-se... a falência múltipla ganha terreno e espreita, aguardando uma oportunidade para açambarcar mais um ser, para devorar mais uma mente desprotegida.

A depressão quase se afigura como um bálsamo, a plenitude das faculdades mentais mais se apresenta como um desespero.

Haverá o tal ponto de não retorno? O ponto em que a lucidez se extingue definitivamente?

Ou será apenas o caso de a mão que nos ajuda a erguer ser a mesma que nos atirou ao chão no instante anterior? Ora, reerguer algo é bem trabalhoso.

E doloroso.

Saudoso o tempo do sono que trazia o sonho e o descanso. Agora só memórias, e a destruição de supostas verdades ilusórias.